Poesia Canalizada – Um trecho da história

Por: Betinho Marques - @rmarques13

Em 23 de novembro de 2018, após um trabalho árduo, a Arena MRV começou a se tornar palpável aos olhos dos atleticanos. Foi após o decreto do então governador, Fernando Pimentel, que o equipamento foi classificado em objeto de interesse social. Continuava ali o “livro” a ser escrito, o trem da história atleticana passava por essa deliberação.

Claro, muito se dirá ainda da mobilização recorde dos conselheiros atleticanos no dia 18 de setembro de 2017. Em votação histórica, a presença maciça dos conselheiros propiciou a venda parcial de 50,1% do Shopping Diamond Mall para a Multiplan. Com 325 votos de apoio e apenas 12 de reprovação, o objetivo da venda de metade do centro comercial era único: construir a Casa do Galo.  Mas, de fato, foi o Decreto de Interesse Social que fez a desconfiança de mais uma “estória” de estádio sucumbir. Enfim, o que estava enguiçado desatou. O atleticano teria a sua casa e faria história!

Outorga dos Recursos Hídricos - Canalização do Córrego do Tejuco

Seguindo a linha do tempo, mais desafios viriam. A lei só permitiria a canalização do Córrego do Tejuco se o equipamento fosse decretado como de Interesse Social, como relatado anteriormente, e foi. Mas isso não bastava. Para intervir na APP (Área de Preservação Permanente) algumas condições eram fundamentais:

  • Manter preservado o raio de 50 metros da nascente sem qualquer intervenção – Ação mantida e obedecida pela Arena;
  • Geralmente, em APP, os cursos d’água são preservados ao longo de todo o curso em 30 metros do seu eixo. Para intervir seria preciso o equipamento ser de Interesse Social, passar por anuência do IGAM (Instituto Mineiro de Gestão das Águas) e pelo Comitê de Bacias Hidrográficas - CBH Rio das Velhas, considerando também que parte do canal já era canalizada no trecho da Via Expressa.

IGAM e CBH Rio das Velhas – Batata quente

Para dar andamento ao processo de canalização do Córrego após o decreto, o empreendimento precisaria passar pela análise dos técnicos do IGAM e assim procedeu. Respondeu inúmeras pendências, e em 04 de dezembro de 2018, obteve o retorno sugestivo para que a CBH Rio das Velhas deliberasse em favor da outorga da canalização.

A partir daí a Arena caminhava resolvendo pendências gerais que não tinham jurisprudência ou resolução na prefeitura de Belo Horizonte. Vale lembrar que o licenciamento da Arena foi feito pelo executivo municipal, contudo, o que a PBH não podia deliberar (resolver), deveria ser solucionado e documentado nos órgãos cabíveis e retornar ao município para prosseguimento do processo. Desta forma, os trâmites seguiram para a CBH Rio das Velhas e entre reuniões, visitas técnicas ao local e respostas aos questionamentos técnicos do comitê, a Arena MRV obteve a aprovação da canalização dos 296 metros no dia 31 de janeiro de 2019.

Dados Importantes:

  • Trecho de 296 metros de canalização;
  • Existência de duas nascentes em local que será mantido para preservação e representa 23% da área útil da Arena;
  • Toda contribuição de água das chuvas que vêm da Arena (telhado, esplanada e estacionamento) serão destinadas a uma caixa de detenção;
  • Todos os cálculos de vazão, tempo de retorno das chuvas e dimensionamento foram a favor da máxima segurança, mantendo a vazão primitiva (vazão existente antes do empreendimento), ou seja, mantendo o fluxo pleno das águas pluviais.

A Execução

A canalização dos 296 metros do Córrego do Tejuco, na data atual, avança em cerca de 70% da sua execução física. Os serviços do canal principal estão sendo feitos através de uma estrutura de aço corrugado galvanizado anticorrosivo de 1900 mm de diâmetro da empresa ARMCO S/A. O material que está sendo pré-montado na Arena, foi escolhido em função da altura do aterro que ficará sobre a estrutura galvanizada. De forma simplória, camadas de terra ficarão sobrepostas às peças de ARMCO, mantendo a área permeável através de um leito de canal drenante com manta geotêxtil e tubos perfurados PEAD.

A importância ambiental da canalização é evitar riscos de inundação. A solução de engenharia proposta visou garantir não só a canalização, mas também a coleta da água pluvial proveniente da Arena. O desejo da equipe é que o término do processo de canalização ocorra antes do período das chuvas.

Uma etapa precedente à instalação dos tubos foi a troca do solo mole, com resquícios orgânicos e impróprios para uso, até encontrar solo firme e adequado. Através do desassoreamento (remoção de material indesejado ao processo) e posterior bota-fora desse solo, as camadas de terra foram substituídas e compactadas em espessuras de 20 cm. Esse processo segue até que o aterro atinja a cota de projeto, que para o nível do campo, está na RN (Referência de Nível) 927,00.

No popular para a Massa – O Corpo da cobra 

De forma popular, podemos elencar a canalização como um corpo de uma grande cobra. Para um trecho de aproximadamente 300 metros, pode-se dividir o caminho em três partes:

  • Rabo da cobra – Trecho próximo às Áreas de Preservação Permanente e que interliga a Arena às nascentes
  • Meio da cobra – Trecho maior
  • Cabeça da cobra – Trecho que finaliza a canalização até a Via Expressa

Atualmente, o processo de canalização (ARMCO – aço corrugado), com subsequente substituição do solo mole pelo material adequado chega em aproximadamente 70% da execução concluída. O meio do corpo da “cobra” está praticamente liberado. Os trechos mais difíceis são as extremidades (rabo e cabeça) da                “cobra”. No trecho do “rabo da cobra” há a necessidade de execução de alguns elementos de fundação. Por fim, a “cabeça da cobra”, trecho que se liga à Via Expressa, finaliza a troca do solo, limpa a área e programa o restante das atividades.

Poesia canalizada

Talvez, não fosse a engenharia e seríamos poetas do devaneio. Aproximar exatas e humanas, concreto e abstrato, o técnico e o popular, o preto e o branco, o córrego e a “cobra” faz entender que a todos interessam os sonhos, a todos interessa o córrego ou “corguinho”, o chamego ou o carinho.

A poesia será canalizada das chuvas, das nascentes ou dos olhos marejados do atleticano que brilham ao ver seu terreiro brotar. O pulso ainda pulsa, uai! Dar nome a tudo é perder a graça de “trenhar”.  Atleticano canaliza na raça e vai!

Galo, som, sol e sal é fundamental!

30 de setembro de 2020

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